Os olhos da moça ficaram turvos de repente. Ela parou para ver tudo o que tinha a seu redor e ficou com medo do mundo que ela tinha nas mãos. Ela precisava decidir que postura tomar, quem ela queria ser para tudo aquilo, e ela decidiu ser a dona da situação, não ser só a platéia e sim atriz do espetáculo, não ser somente o barco a deriva e sim a comandante da história, e assim foi.
Com a fantasia cheia de altivez que ela vestiu, conseguiu convencer todos a sua volta de que aquilo tudo era verdade. Ela tinha o domínio de todas as situações e de todos os sentimentos. Ela era a anfitriã sutil, a convidada educada, a amante compreensiva, a amiga que entendia a falta de retorno e sempre ouvinte. A fantasia virou sua pele, seus medos eram animais presos em jaulas que eram apenas libertados durante a noite, quando a cama estava ocupada só por ela, onde ela chorava, até esses animais se acalmarem e ela poder prendê-los de novo. Quando o dia clareava e ela sem dormir se levantava e se olhava no espelho, por um segundo ela via a moça frágil que ela era, piscava algumas vezes e conseguia ver, por trás daquelas olheiras a máscara tão fortemente construída se reavivando em seu rosto. Nessas manhãs ela vestia seu melhor figurino e não voltava para casa sem conquistar mais uma simpatia ou um novo amor com hora marcada para acabar.
A vida se tornou farta, pois fazia parte de todos os seus movimentos calculados ser reconhecida em todos os aspectos. Devido seu empenho em sempre querer mais do melhor ela sempre tinha muito de tudo. A decepção era algo algumas vezes inevitável e ela sabia disso. A moça sabia que aquilo era importante, afinal de contas, o sofrimento é necessário, mas a dor é opcional. Ela sofria nas noites, mas de dia agia como se tudo não tivesse acontecido e toda vez que ela se lembrava desse sofrimento, ficava mais forte.
Por um longo tempo tudo foi perfeito, tudo calculado, tudo planejado. Alguns amigos fiéis e confortáveis ao seu lado, sucesso, mas lhe faltava algo imprescindível que a alimentava somente nos sonhos: a paixão! Ela não se apaixonava, pois esse sentimento estava guardado com os seus animais. Ela não se permitia sentir nada fora de seu controle. Até mesmo em suas noites de descontrole, ela sabia o que estava fazendo. Até um dia.
Um dia ela sentiu o arrepio na boca estômago quando foi tocada, quando ouviu, quando sentaram para conversar e ali a moça falhou. Ela percebeu o perigo que a rondava, mas a sensação de bem estar era tão aconchegante que ela, por um minuto, se esqueceu da máscara, da fantasia, do controle, da face frágil, e se permitiu. O beijo foi calmo, de toque sutil mas ao mesmo tempo forte, cheio de sentimentos. Ela percebeu que tinha errado e tentou novamente o controle, mas dias mais tarde mais um encontro, mais um erro, mais frio no estômago, mais pernas bambas e mais um beijo. Ela sabia que para aquele sentimento morrer era preciso aniquilar o motivo, era preciso manter o perigo distante. Ela tentou por mais uns dias, mas não conseguiu. A vontade era maior de que qualquer outra ordem.
A moça quis falar, a moça quis dizer que estava disposta, mas não pôde. A sua farsa vivida por tantos anos já havia contaminado aquele beijo. A sua segurança forçada foi o estopim para o calor daquelas noites, a condição para que todo aquele desejo acontecesse foi justamente a sua falta de apego, pois naquele caso acontecido as pressas não havia mais espaço para nenhuma paixão a não ser a que já habitava o outro coração.
Ela saiu trôpega, embriagada por uma confusão de idéias. A sinceridade de todas as palavras ouvidas foi tamanha que ela não sabia o que fazer com elas. Ela andou, andou com uma trilha sonora conhecida aos ouvidos, andou fazendo o caminho mais longo. Pensando na mentira que ela havia se tornado.
Chegou e dormiu um sono pesado e sem sonho. Na manhã seguinte se olhou mais uma vez no espelho com a sua máscara nas mãos. Teve naquela manhã a opção de joga-la fora, de começar do zero. Mas a moça se olhou e não se reconheceu. Ela não sabia quem era sem aquela parte falsa da sua alma. Ela ergueu os ombros, vestiu a máscara e todo o resto da fantasia. Desceu pelo elevador dando “bom dia” calorosos e cheio de sorrisos aos que passavam.
Com o controle em suas mãos novamente ela preferiu acreditar que tudo aquilo não passou de um sonho de péssimo gosto, um capricho de seus não tão domesticados bichos que resolveram pregar-lhe uma peça.
O coração que a moça quis não sabe desse sonho e nem saberá, afinal de contas pesadelos nunca são motivos para bons papos.
7 comentários:
Los hermanos - O Velho e o Moço
Deixo tudo assim.
Não me importo em ver a idade em mim,
Ouço o que convém.
Eu gosto é do gasto.
Sei do incômodo e ela têm razão
Quando vem dizer que eu preciso sim
De todo o cuidado.
E se eu fosse o primeiro
A voltar pra mudar o que eu fiz.
quem então agora eu seria?
Ahh tanto faz! E o que não foi não é,
Eu sei que ainda vou voltar... Mas, eu quem será?
Deixo tudo assim,não me acanho em ver
vaidade em mim.
Eu digo o que condiz.
Eu gosto é do estrago.
Sei do escândalo e eles têm razão.
Quando vem dizer que eu não sei medir,
nem tempo e nem medo.
E se eu for o primeiro
a prever e poder desistir do que for da errado?
Ahhh, ora, se nao sou eu quem mais vai decidir
o que é bom pra mim?
Dispenso a previsão.
Ahhh, se o que eu sou é tambem
o que eu escolhi ser aceito a condição.
Vou levando assim.
Que o acaso é amigo do meu coração
Quando falo comigo, quando eu sei ouvir...
Os olhos da moça avistaram a solidão personificada.
Abriram-se e fecharam-se como quem desacredita.
Depois arregalados enxergaram a tristeza.
E essa será vista constante.
Até que um milagre decida chorar.
Meu Deus... quem vai chorar sou Eu...rs! Thata
Ah querida... de vez em quando eu fecho os olhos, pra não ver o pesadelo... Não que resolva... Mas dá coragem...
Beijos
Nooooooossa!!!! de onde veio essa inspiracao! que lindo Ghe.... ou triste... ou real... sei la.... adorei. Beijos.
Trabalhar no que gosta amansa a vida, se proteger dos vampiros preserva este lado, compartilhar com os companheiros espirituais ... Boa sorte
Vai entender!!!!
Postar um comentário