terça-feira, abril 29, 2008

A virada

Ouvir Gal Costa e Zé Ramalho na São João e uma busca sem fim por banheiros químicos ou de qualquer botequim.
O buraco lúdico que eu estava sumiu quando cheguei em frente ao Teatro Municipal iluminado como nunca vi e quando fui acolhida como parte de uma parte maior de pessoas como se sempre tivesse sido parte.
A Cidade de São Paulo é tão marcante e ficou ainda mais surpreendente quando me vi comendo um cachorro quente na guia da Rua Aurora ou tomando uma cerveja sentada no canteiro central da Av. Ipiranga. Caetano sentiria inveja de mim naquela hora, pois o que aconteceu no meu coração foi muito mais especial do que aconteceu no dele.
Em um momento me perguntei o que eu estava fazendo ali. No minuto seguinte tive a resposta: estava vivendo! E de uma maneira muito mais carinhosa do que eu poderia esperar. “A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”, eu ouvi e agora vivo. O buraco ficou lá no teatro e acho que o Luiz Melodia levou junto com a sua “Magrelinha” e eu fui deixando o sofrimento pelas ruas e preenchendo o espaço dele com muito carinho, acolhimento, banheiros, cervejas e risadas, me sentindo parte de tudo.

sábado, abril 26, 2008

Sobre ter um cachorro

Se eu disser que eu era uma louca apaixonada por cachorros eu estaria mentindo. Sempre achei muito fofo, engraçadinho, mas era muita responsabilidade ter um ser dependendo de você. Ex: você não pode simplesmente viajar. Você tem que pensar se poderá leva-lo ou arrumar alguém bem carinhoso para ficar com ele.
Quando vi o Mathias pela primeira vez foi amor de cara. Com aqueles olhinhos de “gato de botas” bem pidões me olhando do banco de trás do carro vi que havia ganhado um companheiro. Ele foi o melhor presente da minha vida!
Nos últimos dias ele tem dormido cada dia mais colado em mim. Resmunga quando eu me mexo. No meio da noite ele se estica todo, me empurra com as patas e depois coloca o focinho gelado na minha barriga.
Não importa a hora que eu chego, o humor que eu esteja ele sempre faz a maior festa do mundo, como se aquela fosse a hora mais feliz.
A nova mania do Mathias agora é acordar às nove horas da manhã, pedir para descer, faz xixi, uma ronda pela casa e volta a dormir.
Quando me vê quieta ele uiva, chama minha atenção e pula no meu colo. Dá umas lambidas no meu rosto e morde minha mão querendo brincar.
Quando está entediado rói as unhas das patas, mas nunca se distrai, basta eu mexer um dedo que ele pára e me olha. Se vê que não vou a lugar nenhum volta a roer.
Ele simplesmente enlouquece quando pego a guia dele para dar um passeio. Ele late para todos e se acha o dono da rua. Quando voltamos todos os cachorros da rua estão latindo e ele andando como se não fosse com ele.
Ele está sendo meu fiel amigo e a coisa mais alegre... Meu fliho!

quinta-feira, abril 24, 2008

Overdose

Aquela exaustão depois de uma longa corrida. A falta de ar. A sensação de não ter visto nada no caminho, de um tempo que passou e não se viu.
Quando se pára, tudo isso causa um olhar sem ver, um gosto sem definição na boca. Um gosto parecido com o sangue que não escorreu da ferida invisível.
Tive uma espécie de overdose de não ter.
Perdi o meu chão e minha sanidade em um curto intervalo de tempo. Senti a sensação de uma coisa parecida com “quase morte” de sentidos e de amor próprio. Me resumi a um amontoado de nada por perder o que achei que fosse meu, mas que eu já havia perdido há muito tempo.
Enlouqueci e por um motivo que não entendo tentei enlouquecer quem eu julgava ser a responsável por eu estar passando por tudo aquilo e fazendo-a enlouquecer poderia ter o que perdi de volta. Tolo engano. Eu estava solta na buraqueira perdida e estendendo a mão para a pessoa errada me salvar. Um murro direto na minha cara vindo dessa mesma mão ao invés de me derrubar fez com que tudo parasse de girar. Todas as cores embaralhadas viraram coisas reais e eu me tornei real novamente. Vi que a mão estendida que eu lutava para pegar na verdade estava dando passos para trás cada vez que eu me aproximava e foi aí que pude ouvir as vozes que me diziam para sentir as forças das pernas e saltar para fora, pois seria o máximo que alguém naquele momento poderia fazer para me ajudar. Gritar para me ajudar, pois a mão estava cada vez mais longe apenas por querer me manter dentro do buraco por puro prazer.
Ainda estou no buraco, parada e pensando. Reunindo forças para pular num salto só para fora.
Não terei de volta o que perdi, pois definitivamente não é mais meu e prefiro pensar que nunca foi.
A mão não sei se ainda está estendida. Não vejo, pois estou olhando em outra direção... Não quero mais olhar aquela mão de novo.
Já vejo a luz um pouco mais forte vindo de fora da loucura.